Afinal, qual o limite da sedução?
O movimento feminista tem se mostrado cada vez mais forte na sociedade e não seria diferente no meio artístico, em outubro de 2017 um movimento de atrizes de Hollywood nas redes sociais ganhou destaque mundial o #MeToo (#EuTambém) a hashtag era usada para denunciar casos de assédio que elas sofreram recentemente ou mesmo no passado.Vários homens acusados sofreram as conseqüências de seus atos não só nas redes sociais como na sua vida profissional. No Brasil o caso mais recente e de destaque ocorreu em agosto de 2017 e foi do ator José Mayer que assediou a figurinista Susllem Tonani da Rede Globo nos bastidores. Logo após a acusação atrizes e funcionárias da Globo vestiram uma camisa com a frase “Mexeu com uma mexeu com todas”, causando grande repercussão, a emissora logo em seguida decidiu afastar José Mayer por tempo indeterminado e ele segue longe das telinhas até hoje.
Porém em contrapartida desses movimentos um grupo formado por artistas e intelectuais francesas assinou um manifesto criticando o movimento “#MeToo” mencionando que ele teria causado uma reação de “puritanismo sexual” e atrapalharia a liberdade das mulheres com relação ao sexo. O texto publicado na revista Le mondé conta com grandes personalidades: a atriz Catherine Deneuve, a escritora Catherine Millet, a cantora Ingrid Caven, a editora Joëlle Losfeld, a cineasta Brigitte Sy, a artista Gloria Friedmann e a ilustradora Stéphanie Blake.
Em um tema tão controverso perguntamos a opinião de quem realmente importa: mulheres de todos os tipos e de todas as idades, qual o limite da sedução?
Para costureira Vera Lúcia da Silva, 75, os costumes dessa sedução também mudaram ao passar do tempo:
“Houve uma grande mudança, antigamente existia um clima mais romântico, mais respeitoso, hoje as coisas estão mais vulgares.”
Independente disso Vera considera que a palavra “NÃO” tem que ser respeitada em qualquer tempo ou situação, mas o limite varia de cada mulher, então não existe uma resposta única:
“A palavra NÃO vale em qualquer lugar, na igreja, na rua, no bar, em uma roda de amigos, tem que ter o respeito e o entendimento de todas as pessoas. Porém o limite vai de cada uma, sendo assim no meu caso eu daria um limite dependendo do comportamento de quem estiver falando comigo, hoje as coisas mudaram, até as mulheres vão atrás dos homens isso às vezes deixa até o homem assustado.
Janaína Soares, 23, assistente administrativa também considera o limite relativo a cada mulher:
“O limite depende de cada mulher, por exemplo, o rapaz faz uma brincadeira com uma e ela se sentiu assediada aí o mesmo rapaz faz a mesma brincadeira com outra e ela gosta, então isso vai de cada mulher.”
Ela acredita que uma resposta a altura seria uma lei com punição mais forte para o acusado, apesar de acreditar que os abusos não vão acabar:
“Os assédios não vão parar totalmente, mas para minimizar tinham que criar uma lei nova, que prendesse por mais tempo, lei menos branda.”
Emily Chicoli, 18, estagiaria na área de RH e feminista convicta ainda vê muitos problemas sobre este assunto:
“O número de denúncias aumentou só que ainda é um privilégio, as mulheres que conseguem são privilegiadas por que são poucos casos que são aceitos e acolhidos, a maioria das mulheres são desencorajadas, ameaçadas, tem medo. Por mais que tenham chegado casos de visibilidade na TV, eles não são nem a ponta do iceberg o número de mulheres que denunciam ainda é baixo.”
E considera o feminismo de suma importância na conscientização sobre o assunto apoiando as mulheres e dando voz a elas:
“O feminismo tem uma grande importância contra esses assédios, encorajando as mulheres, explicando o que é assedio, tem mulheres que sofrem e nem sabem que pode denunciar, muitas mulheres tem vergonha de assumirem que passarão por essa situação porque é degradante e o feminismo abre esse espaço. Em nenhum momento vejo exagero por parte do movimento, na realidade quanto mais pessoas engajadas na causa, mais pessoas vão ter coragem de denunciar entender o que é assedio que é imoral, então quanto mais movimentos engajados nisso melhor.”
E relata os preconceitos que a mulher ainda sofre quando faz as acusações:
“A mulher ainda sofre muito preconceito, não só nas delegacias, na internet, das pessoas ao seu entorno, ela escuta frases como, o que você estava fazendo, que roupa estava usando, você estava procurando, sair com o cara que mal conhece e tal, elas escutam até da família, hoje a pior coisa que você faz é ler comentários de matérias do tipo, só tem esses comentários. A culpa não é da vitima, mas essas coisas vão desestimulado.
Um caso, por exemplo, que presenciei aconteceu com a minha mãe quando foi agredida pelo meu pai, chegou à delegacia o policial primeiro perguntou se ela tinha feito algo para merecer, se ela tinha certeza, e se tinha lugar para dormir aquela noite, ela tinha então o delegado disse para ela ir para casa e pensar bem se era isso que ela queria fazer. Isso foi em uma delegacia da mulher, existem muitos casos que a mulher chega à delegacia e eles fazem as mesmas perguntas, é muito ruim a mulher é julgada em casa no trabalho, passa por isso tudo e quando vai denunciar acontece isso.”
Emily não concorda com a carta publicada pelas francesas na revista Le Monde:
“O movimento #MeToo e o que teve no Brasil o ‘Mexeu com uma mexeu com todas’ são de grande importância, eu não concordo com as artistas francesas, por que liberdade sexual é a mulher poder escolher quem ela quer se relacionar e isso é o contrario desses assédios, a partir do momento que ela denúncia ela é vitima. De forma alguma acredito que elas queriam ser seduzidas, já é degradante suficiente chegar e denunciar e as pessoas olharem torto para ela, e ainda fazer denuncia falsa não é cabível, o número de casos falsos ao mínimos, existem muito mais casos de impunidade. Esses movimentos tentam conscientizar que a partir do momento que não tem consentimento é assédio.”
Entrevistamos também o outro lado o que homens pensam sobre o assunto? Pedro Henrique, 23 estudante de serviço social ele considera a situação nos EUA exagerada por parte dos homens que depois desses movimentos evitam contato com mulheres:
“Acho radical demais, existem mulheres doidas, existem, mas não precisa evitar o contato, nos distanciamos como ser humano, o que falta é a galera se colocar no lugar do outro, só somos solidários com amigos ou parentes, tipo com minha irmã não pode mexer, mas com outra mulher pode. É só respeitar, acho radical demais se for assim ninguém mais vai conversar. Eu não sinto esse receio, já fui tratado de forma errada por outras mulheres, mas um erro não justifica o outro, por isso não sinto receio de conversar com outra mulher.”
Pedro vê importância no feminismo atual, mas sente falta ainda de um ponto comum no movimento:
“Os movimentos são importantes trazem a tona o que mulheres sofrem a anos, aqui na periferia as chefes de casa são as mulheres aqui no Brasil o pai ou morreu ou abandonou.O feminismo atual ainda não formou um ponto em comum com todos, existem feministas que não incluem mulheres trans por exemplo, ai tem o feminismo negro que é diferente, e além disso tem o radical que é exagerado, odeia os homens, são poucas mas tem. Mas o feminismo mais forte deu voz a tudo isso é tem um viés muito bom, cresceu as mulheres estão tendo mais consciência, mas ainda falta esse ponto em comum com todas.”
Pedro cita alguns casos de exagero ou que atrapalham esses movimentos:
“Teve um caso na minha faculdade que a moça disse que foi estuprada fez o corpo de delito e comprovou que ela não tinha sido estuprada, temos que tomar cuidado, ou um caso mais leve o da Kéfera na televisão do mainsplanning que acabou de certa forma exagerando, não que ela tem degradado o movimento, mas acabou dando meios para o movimento conservador usar isso contra elas.”
No fim todos concordam que isso acontece há muito tempo e medidas devem ser tomadas, as mulheres devem ser cada vez mais encorajadas e apoiadas, para que os desfechos possam ser diferentes do que vem acontecendo.
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