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Foto do escritorGabriel Ferreira

À BASE DE QUE?

Atualizado: 27 de ago. de 2019

O celeiro de talentos precisa ser revisto


No último dia 8 de fevereiro um incêndio no CT do Flamengo do Rio de Janeiro dentro dos alojamentos onde dormiam garotos do sub-15 mata 10 pessoas e deixa mais três feridos. Os alojamentos na verdade eram contenderers sem autorização da prefeitura que tinha autorizado no local apenas um estacionamento. Após a morte dos dez garotos as autoridades de todo o Brasil começaram a fiscalizar os cts de várias equipes do país muitos foram temporariamente interditados e em outros casos as próprias equipes admitiram estar fora dos padrões que devem ser seguidos por lei para poder abrigar os garotos da base.

Sandro Gabriel

Apesar desses problemas esse sonho segue sendo objetivo de muitos garotos pelo Brasil como é o caso de Sandro Gabriel 16, volante do Guarani de Palhoça- SC. Hoje no sub-20 da equipe Gabriel chegou ao clube em 2016 após rápida passagem pelo Salvador Futebol Clube (atual Jacuípense). Ele se prepara para disputar o campeonato estadual da categoria que começa em abril e também a Copa Santa Catarina que da vaga a Copa São Paulo de Futebol Júnior a grande vitrine da base brasileira.


O Guarani disponibiliza alojamento para garotos a partir dos 14 anos, segundo Gabriel esses alojamentos estão em um ótimo nível sendo equivalente ao dos grandes clubes do país, ele afirma que nunca faltou nada que os jogadores precisassem.


Sandro comentou o acontecimento na gávea e sua sensação ao saber do ocorrido:


“Foi uma sensação horrível, moro em alojamento, vivemos a mesma vida, isso traz um desconforto muito grande, principalmente para nós jogadores.”


Gabriel tem planos de seguir com esse sonho futuramente em um clube maior ou até fora do país:


“Como o Guarani é um clube formador pretendo dar o primeiro passo indo para um clube maior e depois almejo ir para fora do país, mas aparecendo uma proposta do exterior já vejo possibilidade de jogar lá, mesmo sendo novo.”

Porém nem todos conseguem seguir com esse sonho, esse é o caso de Maikon Vinicius Silveira 24, ex-goleiro.


Maikon começou a jogar em escolinhas desde os 4 anos de idade em Itapevi , aos poucos foi crescendo e decidiu que iria atuar de volante, teve passagens por Corinthians e Portuguesa onde foi dispensado, depois de quase desistir, seguiu em campeonatos de escolinhas onde decidiu virar goleiro mesmo isso sendo contra a vontade de seu pai, apesar disso seu pai o levou para fazer um teste no Nacional-SP em 2010, ele participou de todas as seletivas e passou e nesse clube Maikon assinou seu primeiro contrato profissional. Pelo clube ele disputou: Campeonato Paulista sub-17, e a famosa Copa São Paulo em 2011 em que eliminou o Palmeiras. Subindo para o profissional disputou o campeonato paulista da 2° divisão (Atual 4° divisão do estadual) e depois acabou indo para o Gremio Esportivo Osasco. Lá ainda no sub-20 disputou o Campeonato Paulista da categoria e depois no profissional a série A3 e a Copa Paulista.


Mas por conta de um câncer linfático descoberto em 2013, Maikon teve que parar suas atividades e conta que o momento foi muito complicado:

“Foi um momento muito difícil na minha vida, não poderia mais praticar esportes, literalmente foi o fim da minha carreira profissional.”

Depois de 5 anos, aos poucos ele tenta voltar no futebol de várzea e lembra como era estrutura dos clubes em que jogou:


“No Nacional não era uma estrutura fantástica, o campo era terrão, o uniforme antigo e para jogar com meião levantado tinha que por um amarril (cordão), a maioria das vezes tinha almoço outras não, mas amávamos jogar e passávamos por essas dificuldades. No GEO era uma estrutura melhor, tinha tudo, alimentação, uniforme, suplementos, academia, o alojamento só usava quando tinha jogo e tinha que se apresentar um dia antes, pois eu morava perto.”


Maikon vê problemas no futebol atualmente que chegam até a seleção brasileira:


“Futebol infelizmente é movido a dinheiro, só consegue virar profissional quem tem empresário, o maior exemplo é a seleção muitos são convocados por conta de empresários e isso posteriormente acaba prejudicando os times pequenos que não tem calendário, se pegar o número de atletas desempregados é absurdo, é a realidade tenho esperança de que um dia melhore."


Caio Alves 26, jornalista e hoje Assessor de imprensa da Inovem Comunicação, escreveu um livro reportagem sobre o tema para o seu TCC na Cásper Líbero em 2014 (Futebol entre o sonho e o pesadelo), ele conta que sempre quis fazer algo sobre o assunto, uma tese, monografia ou o que acabou fazendo o livro. Ele conta que acompanha a base desde 2009 na Tv, internet ou mesmo indo nos jogos daí surgiu esse interesse.

Livro: Futebol: entre o sonho e o pesadelo

Caio relata que os clubes brasileiros investem cada vez mais na base, os garotos do Flamengo, por exemplo, iriam para alojamentos mais modernos que estavam em construção, e que isso faz muita diferença dando exemplo do São Paulo Futebol Clube que possuí alojamentos em Cotia, considerado uma das melhores bases do país o clube tem conseguido títulos das categorias de base e vendas com garotos revelados nos últimos 10 anos. Ele relata que em todos os aspectos a base tem melhorado, a imprensa vem cobrindo mais os eventos e os clubes vêem ali uma fonte de receita muito grande, mas que em contrapartida os resultados das seleções de base têm piorado, tendo como exemplo a não classificação do Brasil para o mundial sub-20, após péssima campanha no Sul americano em Janeiro:


“É curioso, antigamente você tinha menos cuidados, menos atenção e resultados melhores, já hoje o Brasil passa por dificuldades no sub-20, falta à melhora ser refletida nisso, mas são gerações que aqui são criticadas, mas chegam à Europa jogam bem, são formados bons jogadores, você pode questionar que a poucos fora de série, mas se formam bons jogadores os craques aparecem na esteira, mas no geral acho que estamos bem.”

Além da estrutura dos dormitórios e do campo os clubes também investem cada vez mais em acompanhamentos psicológicos e de educação, já que como vimos nem todos conseguem seguir uma carreira de elite, Caio relata que hoje os garotos vêm tendo uma noção maior de que é necessário um plano B:


“Ultimamente estão criando mais essa noção que o futebol é para poucos, o profissional no caso e ganhar um salário majoritário acima de 10 mil, se você pegar pesquisas recentes 80% ganha menos que dois salários mínimos, então têm uma pequena parte privilegiada, mas por essa maior estrutura hoje dos clubes grandes e médios tem esse acompanhamento de precisar estar na escola de terminar os estudos, se você comparar com 20, 30 anos atrás está melhor, mas acredito que ainda é necessário um maior acompanhamento como é feito nos EUA e na Europa como você consegue trabalhar lado a lado o futebol e os estudos.”


Jorge Ferreira, 55, foi professor de matemática na escola que fica dentro do alojamento do São Paulo Futebol Clube entre 2011 e 2016, ele conta que o clube leva muito a serio a escola, tanto que se o jogador não conseguisse boas notas ficava para recuperação ou era até cortado dos jogos:


“Os alunos sempre me procuravam e pediam ajuada quando tinha lição de casa ou alguma prova para poder estudar.”


Éder Militão

Segundo Jorge a escola é fundamental para a formação dos garotos, ao formar primeiro o cidadão já que no futebol a oportunidade é para poucos e exige muito foco e dedicação, tendo como exemplo alguns alunos que Jorge deu aula:




“Ensinei o Lucas Moura hoje na Inglaterra, o Militão que foi para o Real Madrid, e dos que estão no clube ainda, tem o Antony , Helinho, Valsi, entre outros...”









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