O RESGATE AO HUMOR CLÁSSICO
Choque de cultura, programa cultural com os maiores nomes do transporte alternativo brasileiro. Assim o apresentador Rogerinho do Ingá (Caíto Mainier) começa todos os episódios da maior febre do youtube brasileiro em 2017. Em 21 de novembro de 2016 a TV Quase em parceria com o Omelete lançou o primeiro episódio, demorou um pouco, mas a web serie de comedia caiu no gosto do público, mas a que se deve o sucesso? O que choque de cultura traz de novo?
Nos últimos anos com a crescente do stand-up comedy, da comedia de improviso e talk shows, vimos programas humorísticos roteirizados e com atores sendo retirados das grades televisivas e sendo substituídos por programas comandados pelos grandes nomes do stand-up brasileiro.
Pela Globo tivemos os fins de Caceta e Planeta, A Grande Família, Toma Lá Da Cá, A Diarista, a TV na TV programa de Adnet (que já tinha tido o seu comedia MTV cancelado enquanto era da emissora), entre outros, além da reformulação do Zorra Total, que passou a se chamar apenas Zorra e perdeu muito desse clássico humor. Enquanto programas como CQC, Pânico, Agora é tarde (primeiro com Danilo Gentili e depois com Rafinha Bastos), The Noite, Adnight e outros ganharam destaque.
Apesar disso o programa humorístico de maior sucesso da atualidade é um programa que resgata o humor de programas como Chico Anysio, A Praça É Nossa, Chaves, entre outros. Mas se encontra em uma plataforma diferente, o youtube, muito usado na expansão do stand-up, isso foi de suma importância para atingir um público novo, que estava desacostumado com esse tipo de humor. O internauta Danilo Soares acredita que o stand-up estaria vivendo uma “derrocada”, que também teria contribuído para o crescimento do choque de cultura.
Será que o stand-up está realmente em queda? Segundo o humorista Pedro Lemos, famoso por suas apresentações no Curitiba Comedy Club, não, segundo ele a medida que o interesse do público por stand-up no geral diminuiu, a procura por artistas específicos aumentou: “há cinco ou seis anos pessoas iam assistir qualquer espetáculo que tivesse o nome de stand-up. Hoje, a procura é muito maior por comediantes mais famosos, como Thiago Ventura, Renato Albani e Afonso Padilha”.
Mas Pedro ainda acredita que após o “boom”, o stand-up deixou de ser uma novidade, mas ainda vai se consolidar como forma de humor brasileira, “não temos cenas fortes de comédia stand-up fora de São Paulo e Curitiba. Existe um campo muito grande a ser explorado ainda”, completa o humorista.
Sobre uma possível disputa entre o stand-up e o humor clássico, o humorista acredita que há espaço para os dois, e as emissoras investem muito pouco em programas humorísticos. Segundo ele “o espaço do humor na televisão brasileira é muito pequeno. Existem pouquíssimos programas humorísticos, e de stand-up não existe nenhum em televisão aberta”. Pedro lemos ainda acredita que ambos os estilos possam conviver em harmonia.
Já Caíto Mainier acredita que “no mundo de hoje, altamente conectado, a disputa tende a ser por canais majoritários e verbas, etc. Porque a internet permite a exibição de todos os conteúdos, então o público acaba achando o seu conteúdo predileto. Mas o humor de personagem não se opõe ao humor de situação, como o Porta dos Fundos, nem ao stand-up.
"Eles são vertentes que agradam públicos específicos.”
Pedro Lemos acredita que “existem vários comediantes que podem atender vários gostos”. “Me machuca muito ouvir alguém dizer que não gosta de stand-up, talvez ela não tenha gostado de um comediante apenas, então procure outro que lhe agrade mais”. Assim pessoas mais velhas acostumadas com o humor clássico de personagem possam se aproximar do stand-up.
Hoje em dia a faixa etária dos shows de stand-up está entre 25 e 40 anos, Pedro aponta que o motivo para uma faixa relativamente jovem como essa é o pouco tempo da consolidação do stand-up no Brasil e por ser um humor muito mais presente na internet. O youtube recentemente divulgou dados que revelam que atingem mais pessoas na faixa de 18 a 49 anos do que a TV a cabo, comprovando a visão de Pedro.
Ainda assim, Caíto não considera o Choque de Cultura uma vanguarda do humor, segundo ele o humor de personagem é bem clássico no país, eles só trouxeram uma releitura com a sátira a programas de TV. O sucesso que para Caíto foi inesperado, foi consequência de um trabalho em cima de algo que eles gostaram muito e que notaram que havia muita qualidade desde o primeiro programa.
Pedro ainda aponta para o problema da falta de investimento no humor brasileiro por parte das grandes emissoras: “Nos Estados Unidos, as sitcoms e talk shows apresentados por comediantes como Conan O'Brien e Jimmy Fallon são líderes de audiência”. Aqui no Brasil a maioria desses programas nem existe. “Muitos programas de humor que já existiram no Brasil contavam com dois ou três roteiristas, enquanto esse número chega a ser dez vezes maior para o mesmo programa nos Estados Unidos”. Conclui Pedro Lemos.
Podemos ver que ambos acreditam que há espaço suficiente na mídia para todos os tipos de humor, tanto na TV quanto na internet, stand-up, sitcoms, talk shows, humor de improviso, humor de situação, todos estão ai e a tendência é todos eles crescerem, com a procura aumentando na internet é de se esperar que as emissoras de TV não fiquem paradas, quanto mais gente das mais diversas faixas etárias buscar por isso, mais teremos programas de humor para consumir, e que essa expansão continue por muitos anos, afinal rir é sempre o melhor remédio!
Comentários