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Vitória Nogueira

PRECISAMOS FALAR SOBRE DEPRESSÃO

Atualizado: 4 de set. de 2019

A doença

Irritabilidade, tristeza constante, visão muito negativa de si, problemas relacionados ao sono e alimentação, esses são apenas alguns dos sintomas do transtorno mental incapacitante mais comum do mundo: A depressão. Um mal que atinge cerca de 322 milhões de pessoas, valor equivalente a 4,4% da população mundial. Segundo apontamento da OMS o Brasil apresenta maior percentual da doença na América Latina e terceiro maior do mundo (5%), ficando atrás apenas dos EUA, Estônia e Austrália (5,9%) e Ucrânia (6,3%).


A psicóloga Barbara Partal explica que um dos motivos para a doença que já considerada o mal do século, por atingir uma significativa parcela da população, é o estilo de vida corrido adotado atualmente. “o próprio modo de vida do século XX.” A psicóloga complementou ainda analisando a cultura negativa que a internet criou.

Infográfico

“O avanço tecnológico nos possibilitou coisas ótimas, mas também agravou comportamentos que são nocivos para o convívio em sociedade, como o individualismo exacerbado, o imediatismo, o sedentarismo e o exibicionismo, são alguns dos fatores que contribuem para o crescimento da depressão.”


A profissional explicou que não existe idade para o desenvolvimento da doença, que atualmente a mesma poder ser observada desde crianças até em idosos, e que também não há um padrão para o momento certo de procurar ajuda. “Quando perceber qualquer um dos sinais repetidamente e melhor ainda se nem esperar surgir algo pra buscar ajuda. O mais importante é não postergar, não pensar que é simplesmente uma frescura ou um mal estar passageiro.”


Suicídio

A depressão pode levar quem sofre da condição a tamanho estado de apatia que a única saída possível parece ser o suicídio. Apenas em 2015 foram mais de 700 mil mortes por suicídio, o número equivale à 1,5% das causas de morte ao redor do mundo, se tornando a segunda maior causa de morte do ano. A faixa etária está entre os 15 e 29 anos.


A história de ‘Enrique sem H’


Enrique Coimbra, 25, ‘youtuber’ e escritor, essa é a identidade de ‘Enrique sem H’, carioca morador de Sepetiba. Quando o termo ‘youtuber’ é dito logo se imagina um jovem de frente para uma câmera fazendo todos os tipos de tag’s e desafios possíveis, mas Enrique está longe disso. O carioca usa seu espaço no YouTube para trazer informação, ajuda, e claro entretenimento. Um tema recorrente no canal é a própria vivência do jovem com a depressão, tanto como um desabafo quanto ajuda a quem precisa.

Enrique Coimbra

Para entender quem é Enrique é preciso antes de tudo saber da sua história, o jovem escreve livros e os publica na internet desde o 15 anos, teve um blog que entre muitos temas tinha uma coluna de auto-ajuda, onde ele já abordava temas como depressão, ansiedade e tendências suicidas. Com 21 anos, Enrique abandonou a bolsa integral de design para se dedicar exclusivamente à escrita e ao canal, mas em meio a todas as cobranças que ele mesmo se colocava para ser bem sucedido, a depressão que o mesmo já apresentava desde os 12 anos se atenuou culminando em sua tentativa de suicídio. Ao perceber seu equívoco apenas quando já estava morrendo, o jovem resolveu que precisava falar abertamente sobre tema, para se ajudar e ajudar aos seus seguidores, como ele mesmo conta: "Achei fundamental utilizar o espaço público do canal Enrique sem H no YouTube para despertar a curiosidade e instigar a busca por sabedoria e tratamento em outras pessoas, especialmente jovens que foram estigmatizados como eu fui."


Quanto a aceitar que estava doente, o jovem contou ter sido difícil, ele já convivia com os traços da doença há tanto tempo que ele mesmo já acreditava ser assim, o mesmo acontecia com as pessoas aos seu redor que o reduziram a uma jovem resmungão."Foi difícil aceitar que eu estava doente quando todas as pessoas ao meu redor me reduziam a alguém apenas 'fresco', Me perceber doente também foi difícil, pois passei a acreditar que eu tinha nascido daquele jeito, que ser depressivo era parte da minha personalidade." A fala de Enrique apenas reforça a recomendação de Bárbara sobre a procura de tratamento.


Algumas ajudas


CVV - Fundado em São Paulo em 1962, o Centro de valorização a vida é um associação civil sem fins lucrativos que atua na luta contra o suicídio. O atendimento funciona das seguintes maneiras, gratuitamente pelo número 188. Pessoalmente nos 89 pontos de atendimentos. Pelo site (www.cvv.org.br). Por chat, Skype e e-mail.

Atualmente são mais de 2 milhões de atendimentos realizados anualmente por cerca de 2.400 voluntários localizados em 19 estados contando com o distrito federal.

A instituição também é responsável por manter o hospital Francisca Júlia, que é especializado no atendimento de pessoas com transtornos mentais e dependência química, localizado em São José dos Campos (SP).


‘Tá tudo bem?’ - Em 2017 a desenvolvedora Aline Bezzoco lançou o aplicativo ‘Tá tudo bem?’, disponível para Android e IOS. O aplicativo traz em sua plataforma informações sobre tendências suicidas com objetivo de informar sobre o tema e ajudar quem enfrenta o problema.


O app é dividido em 6 abas e seu uso é bastante intuitivo.

​1. Preciso de ajuda: é logo a primeira aba, no meio fica pulsando um botão vermelho com a frase ‘Preciso conversar com alguém!’, usuários que precisam desabafar com alguém e não conseguem faze-lo com alguém próximo podem se utilizar dessa opção. Esse botão liga diretamente para o 188 (CVV)

2. Contatos de emergência: Essa aba foi pensada para quem não se sente bem falando com alguém desconhecido, você adiciona seu contatos de emergência e quando precisar de apoio o app envia um SMS avisando seu contato que você precisa dele.

3. Mitos sobre o suicídio: Essa terceira aba traz alguns tópicos que são de opinião geral sobre o suicídio, porém são falsas.

4. Razões para viver: Nesta quarta aba o usuário cria sua própria lista de razões para viver e a usa como lembrete nos momentos de crise.

5. Configurações: É onde o usuário pode escolher entre receber ou não notificações do app.

6. Sobre: É a aba que conta ao usuário um pouco mais sobre o app.


A desenvolvedora conta que a ideia para o aplicativo veio após ouvir um comentário preconceituoso de uma conhecida sobre alguém que tentou se matar: "Após ver a falta de empatia dessa pessoa, fiquei pensando em como poderia trazer informações sobre o suicídio e tentar desmistificá-lo para as pessoas, a fim de diminuir o preconceito e o julgamento alheio."

Aline comentou ainda que uma das dificuldades em disponibilizar o aplicativo foi a responsabilidade que ela teria que ter com tudo que seria colocado nele, por isso pediu ajuda a sua psicóloga Wanessa Lisboa (CRP 05/50287) que avaliou tudo que a a versão final do aplicativo abriga.


Setembro Amarelo - Se trata de uma campanha acerca da conscientização da prevenção ao suicídio que acontece desde Setembro de 2015. Durante o mês são realizadas ações, como caminhadas, passeios de bicicleta, e abordagens do tema em locais públicos em vários estados do Brasil. Além disso locais públicos são iluminados em amarelo como um símbolo de luta.


O que dizem os profissionais

Algumas coisa em torno da doença são tratados como tabus, como por exemplo a máxima: ‘Não se deve falar sobre depressão e suicídio porque isso influenciará os mais novos.’ Ambas as psicólogas entrevistadas refutaram essa afirmação com argumentos bastante parecidos.


“Se isso fosse verdade seria bom por um lado, porque já teríamos a solução para acabar com a depressão. Mas não é bem assim que as coisas funcionam.” Disse Bárbara complementando com: “Falar sobre depressão é muito importante e falar em todos os locais possíveis. Isso possibilita que pessoas que tenham ou que conheçam alguém que tenha alguns dos sintomas busque ajuda.”


Wanessa seguiu a mesma lógica de sua colega de profissão ao dizer: “Educar pessoas sobre determinado tipo de assunto não é fomentar e, sim, precaver.” Fez ainda uma comparação muito interessante relacionando essa frase a outro tabu: A homossexualidade. “Não é porque duas pessoas do mesmo sexo se beijam na televisão que quem assiste se tornará homoafetivo.”


Elas também deram dicas para pais que estejam preocupados com seus filhos sobre como identificar possíveis sinais da doença e como abordar o assunto com os jovens. Ambas dizem que primeiro é necessário observar o comportamento de seus filhos e caso sinais da doença sejam detectados a abordagem deve ser sutil e aberta. Wanessa cita ainda a possibilidade de estudar o assunto para poder o passar melhor para seu filho: “A melhor maneira de conversar com qualquer um sobre o assunto é fazendo uma psicoeducação, isto é, explicando o que é a depressão, quais são os seus sintomas, quais são as consequências que ela gera no organismo, informar que é uma doença que pode acarretar prejuízos sociais.”


Ela lembra ainda que existem diversas maneiras de tratamento para a doença além da psicoterapia tradicional: “existem variadas formas de tratamento além da psicoterapia, como a terapia medicamentosa, terapias complementares (acupuntura, auriculoterapia, aromaterapia, shiatsu, entre outras), fazer exercícios, praticar esportes, realizar atividades que estimulem a criatividade, desempenhar tarefas nas quais a pessoa se sinta útil, meditar (no sentido de controlar o fluxo e a frequência de pensamentos), praticar yoga, pilates etc.”

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